sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

DESABAFO

Deprimente, é no mínimo o que consigo dizer das noites de Quinta feira na Praça do Peixe. Não quero contudo dar o ar de pudica, cota, démodé etc, etc etc…
Já tive 20 anos, já partilhei lugares com colegas de faculdade das mesmas idades, já passei noitadas e fiz “directas” bem divertidas, óbvio que já assisti a bebedeiras, mas nunca vi panorama tão deprimente e revoltante como o que venho assistindo desde há uns meses na Praça do Peixe.

Pelas 22h00 começa o “espectáculo”, a Praça do Peixe transforma-se numa vulgar Passerelle e os modelos são encarnados por Jovens na faixa etária dos 17-20 anos.

Estes Jovens, salvo honrosas excepções, optam por uma indumentária “rasca”, acompanhados por um acessório digno de uma ralé "rasca", garrafão plástico de vinho ou cerveja rasca, ou copo plástico cheio de cerveja, enfim diria que a noite de quinta-feira poderia ser rotulada de “Quinta Rasca”.

Após o desfile imparável, a maior parte dos jovens iniciam um ritual “regurgitante” e contorcionista já que toda a parte gástrica e hepática começa a lançar sinal vermelho; é neste contexto que estes jovens, deitados no chão ou encostados a paredes, dão início às manobras regurgitantes e todo aquele local vira uma latrina pública de urina e álcool já fermentado.
Os pénis são mais do que muitos, já que o pudor para esta “classe” ou nunca existiu ou diluiu-se nos vários litros de cerveja bebida, e as paredes de todo e qualquer edifício servem de recolha urinária.

Faz tempo que não ouvia falar na "geração rasca" — devo confessar que não sentia nem saudades nem falta nem, ao menos, nostalgia do conceito e da bugiganga analítica que, por largo curso, lhe andou associada. Mas hoje encarrego-me de a recuperar.

Se bem ou mal me lembro, o conceito foi desenhado para retratar o movimento de contestação à ministra da Educação Manuela Ferreira Leite. E, em particular, aludia à deriva mais ou menos obscena ou grotesca que então infestou protestos e manifestações de alunos contra a introdução de propinas, de exames e de outros.
A palavra então cunhada — a palavra "rasca" — era forte, porventura, forte de mais, e, rapidamente, extravasou as fronteiras da sua estrita ocasião de nascimento. Inicialmente serviu para evocar a soltura ou libertinagem de certos gestos de protesto e a recusa obstinada de um princípio de responsabilidade ou de "auto-responsabilidade" de adolescentes e jovens adultos.

Mas, num ápice, revelou a potência atractiva dos "conceitos-miscelânea", com a sua vocação total e "totalizante", e a "finura" sociológica das "profecias que se cumprem a si mesmas", com o seu efeito reprodutor e estigmatizante.

A geração rasca já não era apenas a geração que se manifestava por se manifestar e para se manifestar. Já não era a negação corporativa de mais exigência e mais responsabilidade dos alunos no seu processo de formação. Era agora o retrato de uma estirpe da incivilidade, de uma linhagem apologista do "facilitismo" e da ignorância, de uma prole do analfabetismo funcional e da indigência cultural. A geração rasca não era apenas e tão-só o lamentável produto de um sistema — o sistema educativo. Ela era uma das responsáveis do estado do sistema, uma das "suas" culpadas.

O problema actual é que, apesar da subida dos níveis de excelência, a média é hoje pior.
As salas de aula hoje converteram-se em sociedades assimétricas, em que um décimo dos alunos é excepcionalmente bom e três quartos são fartamente medíocres. Desapareceu dos anfiteatros e dos laboratórios a "classe média do conhecimento".
O sistema não será talvez o da dita "geração rasca", mas, a cada dia que passa, fica mais distante do grande desígnio de qualquer País - formar uma classe média do conhecimento.
Que vergonha, que humilhante, que deprimente…

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